Panegírico

Já me preparei para morrer

Fechei todas as janelas

Ainda não sei aonde me leva minha fé

Tenho ainda a celebrar uma bela

Amizade antiga

Minha vida é boa

Minimalista

Sou um espiritualista egoísta

Tenho preferido fazer amor a assistir filmes

Gostaria de ter vivido mais

Mas me consola ouvir que

Meu jeito faz ponderar os impulsos

Odeio o facebook, mas não com todas minhas forças

Quero reunir todas as arianas que conheço

E me entregar às forças das águas de uma cachoeira

Rever todos os meus sonhos numa grande retrospectiva

E procurar entender o que eles quiseram me dizer

Depois dos quarenta é mais difícil

fazer amigos e ter novos amores,

mas não é impossível!

Continuo tentando inventar uma ficção que me entretenha

Entrevistas, entre linhas, entre atos,

Entravo as costas,

Entre, vida, boas vindas!

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Não totalizante

Faz parte

Para quem faz arte

Já sabe

Que a fé

Não é para os fracos

E quem se atreve

Deve se manter resiliente

Até o instante em que a dor acachapante

O faça participante

De uma longa noite

Só, para daí,

Mostrar ao retirante

Que a chaga não reside

Tão somente

No corpo falante

Mas na alma itinerante

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Acorda para a vida

Acordei

No meio de um pesadelo

Fiquei com medo

Tive insônia

Noutro dia tava um caco

Fiquei de mau humor

Cochilei no ônibus

Passei do ponto

Tomei café,

Fiquei elétrico e li até!

Tarde demais para dormir

Perdi o sono

Não consigo sonhar

A vida também é sonhar

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Penduricalhos

Arranjados

em movimento

Investem

Ao palhaço, alegria

Ao bebe, ternura

Ao cego, direção

Escoam

no chão, a chuva

Emolduram

No colo, os seios

Entoam

No pulso, o gesto

No bolso, as moedas

No molho, as entradas

No vento, os mensageiros

Nos dedos, o arpejo

Ou apego

Mas são apenas

Som.

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Sem saída

Se for

Se enforca,

Se torna

Se toca

Sem toca

Num canto

Se encanta

Cantada

Então casa

Asa

Voa

Vou

Ou

É o ó

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Fé, menino!

Quanto tempo eu preciso

Para esvaziar os meus ouvidos

Do tremulo gemido

Do fantasma que abrigo?

Seu sussurro gélido

É tortura ao convívio

E no mais retumbante delírio

Posso ser homem de brios

Esse costume inacessível

De se ouvir com escrutínio

Os erros fálicos destemidos

Que permanecem guarnecidos

Na mascara pobre, enfraquecida

Das memórias infantis esquecidas

Deixe me passar surdo

Para o lado não empedernido

Do cântico feminino.

Gastar palavras

As mesmas faladas

Sem amarras

Sem amarás

Sem sentido sequer

Depois lhe aplico a razão

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Contingência

Quando há encontro

Fico meio

Desarmado

Desalmado

Desagalmado

Desalojado

Do meu ser

Deslocado

E tresloucado

Em ter

Tesouro impossível

De se contar

E se conter.

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Segundos

Explodiu de paixão

O dedo borrado pela esferográfica

Obedecendo ao tempo

Que resta para a tinta

Correndo solta a

Imaginação

Num genuíno cenário

De símbolos

Cheio de contradição

Cospe o som da retidão

Para num vislumbre oco

Falar da solidão.

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Prazer

Não são palavras

É o gozo que não consigo transmitir

Apenas o urro sem nome

Apenas o olhar perdido

Apenas aquilo que foi.

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Palavras mortas que falam da vida

Pensamento torto, pensamento vazio, pensamento construído de emoção, não consegue dar vazão, senão pela fúria inexpressa. Essa coalizão da linguagem, o som morto da palavra, o ser mitológico que outrora vivia. Não pense que o pensamento salva. Ele adoece. Há quem diga que apodrece, causa senilidade, envelhece, deixando o rastro branco, isso quando não deixa calvo o desejo. Itinerante, essa fúria pulsional que quer destruir o arbítrio deixa de ser funcional, estranhece no sentido, entristece os sentidos, emudece o resto, essa memória do que não mais serve. A mente quer vagar em loop, esconder o lado lúgubre hesitoso em ternura, ruge solto além do sopro que tarda em verificar em quanto tempo falta aninhar a solidão na ponta da pena que sossega em pleno voo a altitude do volume morto, de vão em vão surge o barulho equívoco do motor da sofreguidão o horror que isso causa lembra o ato de dizer “estranho sou eu em conceber o triste fardo do caminho traçado” e quando o sol se entardecer, vamos enternecer o que eternesce no longínquo horizonte, assim a alma não intumesce. Mais uma vez digo a mim mesmo que consigo. Esta é uma luta contra o destino. O viés está escondido nas curvas tortas do umbigo. Onde está o litígio?

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário