Acaso

Puro encanto, puro espanto

A morte traz o pranto

E não descanso

Não quero que acabe

O que me causa, por enquanto

Breve esse sussurro

Luto antecipado

Para não me ver desarmado

No infinito reparo

Não sou mais desalmado

Recomeço o triunfo

Não mais me calo

Se tenho medo

É do fortuito

Será próximo passo

Me jogando no futuro

No vazio,

No incerto,

No puro acaso.

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Bucaneiro

Me paguem para dizer poesia

Me calem se não for o dia

Me represem em tuas melodias

Me ofendam na brecha das ironias

Me assistam fugir da calmaria

Me desçam as braguilhas

Me mostrem o caminho para as virilhas

Me afundem naus na tombadilha

Me enauseem no balanço frio da barriga

Me insistam na bobagem tola das rimas

Me naufraguem neste canto bardo de infâmia

Me encarcerem neste momento de volúpia

Me desconstruam.

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Sublime ação

Desapareço e reacendo o desejo

De procurar pelo meu próprio apreço

No intento de contornar mais uma vez

O vazio que aqueço

Sob as asas do pensamento

A dúvida mimetiza o símbolo

Impronunciável do véu da escolha

E mais uma vez o objeto é inalcançável

O que recolho como gesto

Deixa a vida suportável.

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Cigarra

Se agarra ao som infinito

Para se tornar usina de nada.

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Musico

Os olhos ardem

Na fuga do desejo

Tracejo a nódoa

Na busca do arpejo

Ensejo sinfonia pura

Moribunda no traquejo

Da haste do instrumento

Rabeca dizendo

Queijo e goiabada

Prefiro estar meio teso

Do que teso inteiro

E enterrado,

A não ser que seja

Num rabo de saia.

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Duplo

Entrego-me às letras do meu nome

Que compõem uma sinfonia misteriosa

a qual não consigo resistir

Ditando-me, margem a margem,

O estranho que se confessa em mim

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Na real

A invasão do real

A inversão do real

A versão do real

Aversão ao real

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Em vê, redar

Fico procurando o avesso

de noites solitárias em minhas lembranças

Os chistes que nunca contei

E que surgiram sem aviso e sem graça

Noite a noite numa repetição

Clara, assustada e desperta

Pelo medo de ver

A visão, clarividência, o prenúncio,

O anúncio de uma brincadeira que

Pode virar uma verdade

São muitos vês, muitos alertas para o olhar

Muitas visadas naquilo que não se vê por antecipação

São muitos rodeios para ser surpreendido pela cegueira ordinária

E ir em direção às bordas do que se conhece

Para se perder no gosto rotineiro de viver

É de ver

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Reivindicação

Amo quem me dá poder

A quem dou poder?

Como pode o poder me fuder?

Pode o poder!

Tem melodia na emanação

Tem mel na minha emoção

Tem fel no dia da eleição

Tenha fé um dia na nação.

Fé é o desejo de mudar o presente

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Repetição

A expectativa se abre como janela

O destino a vê e a espera

Todos os lugares parecem os mesmos

E a falta de algo assusta o seu intento

O retorno daquilo que conhece

Esmaga todas as outras que não vieram

A oportunidade se cala e se perde

Não vou tentar mudar os que esperam

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